Dois Papas (Netflix, 2019)

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Assim que a Netflix soltou a publicidade ao ar livre deste filme, em paradas de ônibus e em ‘outdoors’, percebi a nítida intenção de ser uma peça de propaganda com alto poder de influência, pois não bastasse ter Anthony Hopkins, que dispensa apresentação, tem outro excelente ator, Jonathan Pryce (Brazil, o filme, 1985; Game of Thrones, Piratas do Caribe, 007, etc), é escrito por Anthony McCarten (A Teoria de Tudo, 2014; Bohemian Rhapsody, 2018 e O Destino de uma Nação, 2017 – todos indicados ao Oscar) e é dirigido pelo brasileiro, com forte tendência política à esquerda, Fernando Meireles (Cidade de Deus, 2002; O Jardineiro Fiel, 2005; Ensaios sobre a Cegueira, 2008 – todos filmes com forte crítica social). Então, não estamos falando sobre qualquer filme, mas de um que tem boas chances de não apenas concorrer, mas levar um OSCAR.

Por isso, ao perceber e prestar atenção àqueles anúncios, ficou evidente o desejo deles apresentarem uma polarização entre o papa conservador, dogmático, alemão, carrancudo e fechadão (Bento XVI – Joseph Aloisius Ratzinger) e o então futuro papa, mais aberto a mudanças, argentino, fã de futebol, sorridente e amigo de todos (Francisco – Jorge Mario Bergoglio). Logo, já ali na rua, eu esperava assistir a um filme muito bem atuado, em um cenário fantástico, mas com a intenção de mostrar como foi a transição entre a posição antiga, dogmática, retrógrada, fedida a conservadorismo, para o início de uma reforma profunda e promissora à Igreja Católica, tentando, assim, buscar os católicos desanimados, desigrejados e que talvez tivessem deixado a ICAR por denominações neopentecostais (na maioria) durante os governos dos últimos dois papas (João Paulo II e Bento XVI). Mas, gente, o filme não fica só nesse embate.

Em poucas palavras, o filme, para quem não assistiu, é mais ou menos assim: Bergoglio planeja ir até o Vaticano para entregar sua carta de renúncia ao Papa Bento XVI porque não se sentia confortável com a ICAR, uma vez que a igreja estava perdendo pessoas, ostentava muito em suas tradições, e, assim, ao seu ver, não era mais tão relevante aos desafios do mundo globalizado. Só que aí Bento XVI não reage bem e eles tem alguns momentos de conversa pessoal e acalorada onde se conhecem melhor e Bento XVI confessa que planejava renunciar o papado, mostrando até o momento que há a transição para o novo Papa, o próprio Bergoglio.

Uma querida amiga me indicou o perfil no Instagram de PHDelfino, que se descreve como ‘escritor, católico, conservador e de direita’, e, porque o filme fala sobre católicos, eu vejo que vale a pena reproduzir os comentários para vermos como o outro lado pensa sobre o filme, concordando e discordando – é claro.

  • …esse filme se insere em um esforço que toda mídia global tem tentado empenhar, que é o de pintar o Papa Francisco como um socialista revolucionário que veio para salvar a Igreja das garras do conservadorismo.
  • Eles chegam ao cúmulo de contar a história como se isso fosse uma realidade tão evidente que o próprio Bento XVI percebeu e, por isso, renunciou, intencionalmente a fim de que Francisco fosse eleito no seu lugar e desse início à Revolução de que a Igreja precisa.
  • Ora, essa “revolução de que a Igreja precisa” (e da qual fala o filme) é muito mais a revolução que eles querem que Francisco faça do que a revolução que Francisco realmente está disposto a fazer. Ele tem um perfil diferente do Bento, isso é inegável, e, respeitando o estilo de cada um, os dois têm capacidade de ser grandes papas. Francisco pode fazer uma revolução no sentido de sanar alguns problemas que estavam demorando demais para serem resolvidos… Como um Papa mais liberal, poderá dar um frescor à Igreja, aproximando pessoas e preparando-as para os tempos do próximo Papa, que provavelmente, voltará a ser um conservador como o Bento. 
  • Essa alternância não é má na Igreja, se ela não se tornar política como a mídia quer tornar. Mas Francisco não está dando nenhum sinal de que agirá desta forma. Portanto, esses esforços midiáticos continuam porque:
  • O marxismo, um dia, viu que não poderia destruir o Estado então atualizou sua estratégia para tentar direcionar o Estado no sentido do socialismo. Só que a Escola de Frankfurt percebeu que o Estado era uma consequência da estrutura cultural da sociedade e que era preciso primeiro direcionar essa cultura: a “superestrutura”. A instituição que forma os valores não é o Estado, mas sim a Igreja. Por isso, ela se tornou um alvo determinante para a vitória da revolução. 
  • Eles perceberam que não podiam vencer a Igreja, por isso começaram a tentar ‘esquerdizá-la’, lançando a Teologia da Libertação. Essa tentativa foi condenada pelos Papas e não pegou (tem crescido novamente nos últimos anos mas sem chance alguma de vencer a hierarquia eclesiástica e tomar o Papado). Logo, pensaram: “vamos deixar o Papa lá quieto na dele, o que ele disser que for possível de usar em favor do nosso discurso a gente mostra, tudo que ele disser e tiver um caráter mais conservador a gente esconde… e assim o povo vai atrelar as nossas ideias como “as ideias da igreja”.
  • Ou seja, eles descobriram que não precisam mais tomar a igreja, basta tomar os meios de comunicação. Eles não precisam mais transformar a igreja, basta transformar a percepção que as pessoas têm da igreja. Ao se colocarem entre a Igreja e o povo, eles filtram, distorcem, manipulam e, assim, a reputação de qualquer um se adequa àquilo que é favorável às vontades da mídia esquerdista.

Bom, depois de ler isso tudo, sabendo que nosso chefe não é o Papa, mas Jesus, o Cristo, que é nosso Salvador e Rei, e compreendendo também as demais diferenças dogmáticas que temos, achei interessante a visão desse senhor sobre a mídia montar o Papa Francisco como um herói do povo, homem necessário para mudanças à inclusão dos grupos menos favorecidos (pobres, crianças em situação de vulnerabilidade, gays, etc.) e o Bento XVI como alguém a se evitar, com reputação manchada especialmente porque ele teria tido o conhecimento de padre pedófilo e não fez nada para resolver esse caso e pelo escândalo do Banco do Vaticano. A cena do Papa Francisco meio que alterado com o Papa Bento XVI na sala das lágrimas da Capela Sistina me chamou atenção sobre isso.

Mas tem mais.

Que tipo de líder é necessário a Igreja? Um que seja muito bom de livros, com o latin na ponta da língua, dedos capazes de tocar músicas lindas e alegres ao piano, ou um outro que ande entre os pobres, que não usa os sapatos vermelhos reais, que acolhe vítimas de regimes repressores e não tá ligado nos dogmas da igreja, mas no tete a tete, no olho no olho? Ainda que essa visão oposta aqui possa ser discutida – como é acima por PHDelfino.

A igreja já tem um líder e seu nome é Jesus. Ele é o líder completo, aquele que não falha por omissão, mentira ou falta de saúde e inteligência. Não existe um ser humano capaz de liderar sozinho algo que nem ao menos é dele.

Outra coisa. O líder, seja qual for sua especialidade, grau de intelecto ou carisma, não pode mercadejar a Palavra de Deus (2 Co 2.15). É com muita tristeza que vemos notícias de púlpitos que se tornam palanques políticos ou lugares de venda de salvação e cura física e do bolso vazio por dinheiro. Também é doloroso de mais perceber que a política eclesiástica, seja qual for a denominação, muitas vezes falha em tratar o machucado antes de ser necessário/imprescindível amputar toda a perna. Nossos líderes, seja qual for a denominação cristã, precisam antes de tudo amar a Verdade, que nos é revelada na Bíblia, tendo asco a mentira e, então, fazer o que Filipe fez em Atos 8.5, isto é, anunciar Cristo sem fazer isso um bem de consumo. Deus é magnífico e nos fez diferentes para atuação em áreas diferentes. Isso significa que um pastor que é reconhecido pelo intelecto tem o seu espaço na história de Deus salvando seu povo, bem como também um pastor que é mais sociável e humilde também tem seu lugar, ambos passando qualquer que seja a dificuldade para anunciar a Cristo em tudo que Ele se revela a nós com alegria (Rm 5.3).

Gosto que o filme humaniza os dois papas. Mostra momentos de autocrítica e também as dúvidas quanto a fé, a capacidade de cuidar da igreja que receberam responsabilidade.

Sabe, tal como um pastor que sou, diariamente, eu sou obrigado a reconhecer minha incapacidade de cuidar das ovelhas confiadas a mim por Deus. As crises internas são companheiras constantes e enfadonhas de todos os líderes religiosos, pois vez ou outra é possível ter a impressão que em função de uma aparente santidade, estilo de fala, ornamentação do templo, estratégia de marketing é que o ministério é bem sucedido ou não – só que isso é um ledo, gigantesco engano.

O Senhor fala a Josué para ter coragem não é pela dificuldade de vestir os sapatos usados por Moisés e assim liderar o povo para vencer batalhas, mas porque precisava coragem para reconhecer que: 1) era um ser incapaz de sozinho vencer batalhas; 2) que precisava depender de Cristo a cada passo da sua caminhada e não apenas na força do seu intelecto, com o curriculum de quem andou com ou com o conhecimento e força de seu exército; 3) haveria de sofrer muito no caminho, mas haveria de obter vitórias pois o Senhor estava ao seu lado.

Padres, tanto quanto pastores, precisam reconhecer quem são diante de Deus. Há uma necessidade urgente de líderes humildes, não dado a mentiras, a barra de saias, as barras de ouros e as cacháças de são joão da barra! Há uma urgente necessidade de líderes firmes na Palavra e não em si mesmos. Não somos nós que lideramos a igreja, mas, sim, o Cristo!

 

 

FUN FACTS1

  1. Ratzinger é realmente fã de Fanta e toca piano.
  2. No primeiro conclave o Papa Francisco relutou muito mais que no filme para não ser escolhido Papa.
  3. Os papas se encontraram no Castel Gandolfo apenas em 2013, após a renúncia de Ratzinger.
  4. A partida de futebol é algo da mente de Anthony McCarten que viu uma foto dos dois assistindo TV. Logo, a presidente Dilma estava de gaiata no filme.
  5. O Papa Francisco realmente rejeitou o uso dos sapatos vermelhos.
  6. Ele também não terminou um noivado. A história com a Amalia Damonte é de um namorico de infância (quando tinham 12 anos) e Bergoglio disso que se a relação não terminasse em casamento, ele se tornaria padre.

 

1. https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/12/20/dois-papas-o-que-o-filme-da-netflix-tem-de-verdade-e-ficcao.htm 

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